Situação de entrevista e estratégia do investigador - Ficha de Leitura I

Referência: AlBARELLO, L. e tal (1997). Práticas e métodos de investigação em Ciências Sociais. Lisboa, Gradiva

Ruquoy, Danielle – Situação de entrevista e estratégia do investigador, p 84-116  

 

            A entrevista tornou-se um instrumento essencial para a abordagem em profundidade do ser humano. Para além de ser utilizada como único meio de recolha de dados em certas investigações é também muitas vezes associada a outras técnicas de inquérito. Os instrumentos metodológicos devem ser escolhidos tendo em conta as referências teóricas da investigação, como tal, o método de recolha de dados que se pretende utilizar deve ser adequado ao tipo de dados a investigar.

            A entrevista é utilizada quando o investigador não dispõe de dados já existentes, mas que deseja obtê-los. Depois de verificada a necessidade de obter determinados dados, é necessário ter ideias relativamente ao contributo específico da entrevista e às condições exigidas para a sua aplicação, em comparação com outras técnicas, tais como a observação ou o questionário. Quando se escolhe a entrevista, opta-se por determinadas condições metodológicas, nomeadamente: uma relação verbal entre o investigador e a pessoa interrogada, que pode se directa ou indirecta; uma entrevista provocada pelo investigador; uma entrevista para fins de investigação; uma entrevista baseada na utilização de um guia de entrevista ou uma entrevista numa perspectiva intensiva.

            Relativamente à entrevista semidirectiva, por um lado permite que o entrevistado estruture o seu pensamento em torno do objecto perspectivado, mas por outro lado, a definição do objecto de estudo elimina do campo de interesse diversas considerações para as quais o entrevistado se deixa arrastar, levando-se pelo seu pensamento, e exige o aprofundamento de pontos que ele próprio não teria explicitado. Esta entrevista é assim designada uma vez que é designada por uma sérir de perguntas-guia relativamente abertas e não muito precisas, que não obedecem necessariamente à ordem que está anotada no guião. O entrevistador, assim, esforça-se apenas para reencaminhar a entrevista para os seus objectivos, visto ser o entrevistado a “desenrolar e a orientar” a maior parte desta. Este método permite grande flexibilidade na obtenção de informações do entrevistado e proporciona algumas vantagens, nomeadamente a possibilidade de mudar o rumo em qualquer momento, possibilidade de alcançar uma maior profundidade em relação a um determinado assunto e permite ainda estabelecer um vínculo muito maior com o entrevistado, exactamente porque esta é efectuada cara a cara.

De acordo com esta perspectiva, é possível distinguir a entrevista semidirectiva de outras três modalidades de entrevista, nomeadamente: A entrevista directiva realizada com base num questionário, onde as questões são padronizadas, a sua ordem é estabelecida, onde se utilizam questões fechadas ou abertas, mas para as quais se esperam respostas curtas; o relato de vida que engloba a abordagem biográfica com a temática e a entrevista não directiva, executada em torno de um tema geral que se pretende que o entrevistado explore.

            A entrevista semidirectiva desenvolveu-se como metodologia, no seguimento de novas concepções que surgiram no campo da psicossociologia. Relativamente à entrevista terapêutica, foi Carl Rogers que nos anos 50, incrementou as bases da entrevista não directiva em psicoterapia. Segundo este autor, a finalidade da terapia consiste em ajudar o sujeito a exprimir-se e a libertar-se dos entraves que o impedem de ter acesso à própria verdade. Este autor utilizou muito pouco a expressão não directiva, uma vez que tinha especial preferência pela noção de “terapia centrada no cliente”, pois defendia eu o termo não directivo levava a crer na passividade e até mesmo na não intervenção do terapeuta, enquanto a escuta e a compreensão implicam uma acção activa sobre si próprio e sobre o interlocutor. Relativamente à não directividade na entrevista de investigação, pretende-se um desejo de conhecimentos. O saber teórico do investigador está por trás da prática da entrevista, delimita o campo da pesquisa, define a exploração ou enuncia hipóteses.

            O contributo de Carl Rogers baseia-se no facto de ter salientado as capacidades a pôr em prática para facilitar no outro um processo de descoberta sem com isso impelir ao mesmo tempo elementos de conteúdo. A sua manutenção no decurso da entrevista exige um certo treino pessoal, uma vez que, na maior parte das conversas correntes, cada pessoa tende a introduzir esquemas de pensamento de outra nos seus próprios quadros de pensamento e argumenta no sentido de alargar as suas convicções. 

            A entrevista realiza-se num determinado quadro susceptível de induzir efeitos e convém analisar os diferentes factores contextuais que podem influenciá-la, nomeadamente: a relação social entrevistador/entrevistado; o quadro espácio-temporal; a relação com a investigação e a relação com o entrevistador e com o seu modo de intervenção. Contudo, o registo da entrevista deve ser interrompido a pedido do entrevistado, sempre que o mesmo considere que o que tem a dizer é demasiado secreto para ser produzido.

            Após a realização da fase exploratória e a recolha da amostra, a primeira grande preocupação do investigador consiste em saber como estabelecer contacto com as pessoas que pretende interrogar. Nesta etapa, o papel do entrevistador é bastante importante, e neste sentido deve procurar fazer: revelar o interesse do estudo, a utilização que será feita dele; motivar o interlocutor, apoiando-se em motivos que ele adivinhe; fazer desaparecer os receios e explicar como e porque razão a pessoa foi escolhida. Devem também ser aplicadas algumas estratégias específicas quando existe uma grande distância social ou cultural entre o entrevistador e o entrevistado, nomeadamente não escutar apenas o interlocutor, mas estar atento às reacções suscitadas pela própria presença como entrevistador; acentuar um papel social e ocultar outro e procurar pontos de conivência com o interlocutor.

            Relativamente ao plano da entrevista, este compreende o guia de entrevista que inclui o conjunto de pontos que se deseja explorar e o modo de intervenção, tais como o emprego do guia, o que se espera como discurso e as atitudes do entrevistador. O guia da entrevista poderá ser fracamente elaborado, dizendo respeito a uma questão indutora e eixos temáticos ou fortemente elaborado, em torno dos temas e das hipóteses traduzidas em indicadores.

            São quatro os momentos-chave da entrevista. Em primeiro lugar os preliminares, que ocorrem antes de começar a entrevista e tem como principal objectivo fazer com que o entrevistado se sinta associado à investigação e compreenda que o seu ponto de vista é importante; seguidamente encontra-se o momento do início da entrevista onde o entrevistador escolhe uma questão introdutória que tanto pode dizer respeito ao tema central do texto como a aspectos relativos à situação do entrevistado; depois segue-se o corpo da entrevista onde após cada intervenção do entrevistado, o entrevistador acompanha a avanço do pensamento do entrevistador, ajudando deste modo o sujeito a exprimir as suas ideias, contudo, nem tudo o que o entrevistado afirma é tomado em conta do mesmo modo, como tal o entrevistador selecciona de entre as afirmações do entrevistado, apenas as que dizem respeito ao objecto de estudo. Por último, o fim da entrevista onde é feita uma recolha de impressões sobre o modo como correu a entrevista. Tendo em conta a experiência que já tenho no que toca á realização de entrevistas, na minha opinião, considero que o momento mais importante seja o dos preliminares, uma vez que se o entrevistado perceber o motivo pelo qual estamos a realizar essa investigação, bem como os seus objectivos e a importância que o seu testemunho tem para o desenvolvimento dessa mesma investigação, o entrevistado vai colaborar muito melhor na execução da mesma e irá ficar muito mais à vontade para partilhar com o entrevistado os seus pontos de vista.

            Concluindo, a entrevista é um procedimento de recolha de informação que utiliza a comunicação verbal. É uma situação de interacção desenvolvida pela comunicação entre duas pessoas a fim de que se obtenham informações a respeito de um determinado assunto mediante uma conversa de natureza profissional. É um processo utilizado na investigação social e consiste no desenvolvimento de precisão, focalização, fidedignidade e validade da conversa (face a face de maneira metódica). É também e, por fim, uma técnica em que o investigador se apresenta face a investigado e lhe formula perguntas com o objectivo da obtenção de dados que interessam à investigação, por isso é uma forma de interacção social.

 

A construção de projectos de intervenção - Ficha de Leitura II

Referência: GUERRA, Isabel Carvalho (2002). Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais. 2ª ed. Cascais: Principia.

A construção de projectos de intervenção, p. 125-162

 

            O trabalho por projectos é muito utilizado como forma de condução de acções, muitas vezes ligada à intervenção na complexidade e na escassez constante de recursos.

            Um projecto não é apenas a expressão de um desejo, de uma vontade, de uma intenção, mas também a expressão de uma necessidade, de uma situação que se pretende resolver. Um projecto é construído por quatro fases, sendo que a primeira fase é a emergência de uma vontade colectiva de mudança e a constatação de recursos e a segunda fase é a análise da situação e a realização do diagnóstico. Por sua vez, a terceira fase pode ser entendida como o desenho do plano de acção e por fim, a quarta fase diz respeito à concretização, ao acompanhamento e à avaliação do projecto.

            As principais etapas contidas no desenho de projecto são a identificação dos problemas e diagnóstico; a definição dos objectivos; a definição das estratégias; a programação das actividades; a preparação do plano de acompanhamento e de avaliação do trabalho e a publicação dos resultados e estudo dos elementos para a prossecução do projecto. Relativamente à primeira etapa, o diagnóstico é essencialmente um processo de pesquisa-acção participado e utiliza várias técnicas. O diagnóstico diz respeito ao conhecimento científico dos fenómenos sociais e a capacidade de definir intervenções que atinjam as causas dos fenómenos e não as suas manifestações aparentes.

            A realização do diagnóstico traduz-se na identificação das mudanças sociais que formatam uma determinada problemática, sobre a qual se pretende intervir. Para enquadrar um diagnóstico é necessário ter um modelo de referências teóricas e um conhecimento das necessidades em acção social. Tal como o enquadramento teórico é indispensável à elaboração do diagnóstico, também não é possível formular uma intervenção sem uma boa colheita de informação. Um bom diagnóstico é responsável da adequabilidade das respostas às necessidades locais e é fundamental para garantir a eficácia de qualquer projecto de intervenção. O diagnóstico refere-se a um conhecimento amplificado do meio social, pressupõe uma relação de interacção entre as variáveis em presença e a identificação não só das vulnerabilidades, mas também das potencialidades/recursos do meio de intervenção e contempla a detecção das necessidades.

            Um projecto de intervenção inicia-se com a identificação dos problemas, a que se chama geralmente análise ou avaliação de necessidades. Nas teorias mais compreensivas, o essencial do conceito de necessidades reside na satisfação de carências, e na perspectiva mais funcionalista, este conceito é o motor de comportamentos ensaiados num jogo de vencedores e vencidos. O diagnóstico deve permitir a capacidade não apenas de identificação das necessidades, mas também do sistema de acção que as produz e lhes dá um sentido sociologicamente relevante. Em suma, um diagnóstico tenciona responder à questão: por onde passa a satisfação das necessidades sociais num determinado sistema de acção?

            O diagnóstico deve considerar os diferentes actores envolvidos num projecto, as suas necessidades específicas e as suas particularidades de funcionamento. Existem três níveis de actores: os beneficiários da acção, os condutores da acção e os encomendadores/decisores. O primeiro nível diz respeito ao grupo-alvo, ou seja aqueles a quem o projecto é dirigido. No segundo nível estão inseridos os que são responsáveis pela execução da acção, seguindo-se o terceiro nível onde se situam aqueles de quem depende a acção e que são responsáveis pelo accionamento de recursos.

            O diagnóstico inclui três operações, nomeadamente uma fase de pré-diagnóstico, uma fase de diagnóstico propriamente dita e uma fase de hierarquização dos problemas e de desenho de soluções alternativas. A fase de prédiganóstico tem como objectivos investigar e organizar a informação já disponível sobre as necessidades e o grupo-alvo; determinar o enfoque principal do diagnóstico e o nível de aprofundamento do programa e construir compromissos entre os parceiros envolvidos para todas as fases. Nesta fase, pretende-se identificar as questões-chave relacionadas com o diagnóstico; determinar áreas de conhecimento que serão necessárias para cada problemática-chave; identificar a informação já existente, a sua fonte, a qualidade e o período temporal a que se referem essas informações e por último, identificar que tipo de informação pode clarificar melhor o conhecimento da situação e identificar as fontes potenciais de recursos da informação e a metodologia para os obter. Relativamente aos métodos de pré-diagnóstico, as técnicas mais tradicionais recorrem geralmente a dois tipos de recolha de informação, nomeadamente a análise documental e entrevistas a informadores prestigiados. Na fase do diagnóstico propriamente dita, a elaboração do mesmo baseia-se na compreensão do carácter sistémico da realidade e envolve uma relação de causalidade primeiramente, sendo posteriormente mais global e integrado. Tem como principais objectivos documentar em que estado está o sistema de acções face ao problema identificado; determinar a magnitude e a importância dos problemas e as suas causalidades potenciais e identificar as questões-chave Nem torno das quais se pode formular a intervenção. Nesta fase utiliza-se geralmente a análise prospectiva e a técnica de elaboração dos cenários.

             As análises prospectivas são utensílios de apoio ao planeamento e à tomada de decisão, tendo-se desenvolvido para responder às necessidades de planificação a longo prazo nos sectores submetidos a múltiplas e complexas interacções e em cujos resultados de evolução se pretende intervir. Os métodos prospectivos têm como principais características: o carácter qualitativo, a globalidade do método, a racionalidade, o voluntarismo, o antifatalismo e o facto de incorporarem uma visão a longo prazo. O texto referido aborda a análise prospectiva de Michel Godet uma vez que a base da metodologia que o mesmo propõe, consiste na recolha quantitativa e qualitativa de informação de forma a identificar as variáveis-chave que estão na base das dinâmicas sociais. De uma forma sintetizada, a sua metodologia engloba três fases, nomeadamente a análise estrutural, a estratégia de actores e a construção de cenários. A análise estrutural pretende identificar e realizar a descrição do sistema da forma mais exaustiva possível, tendo em conta a problemática em questão, bem como responde á obrigação de tratar simultaneamente um número importante de variáveis heterogéneas, quer quantitativas, quer qualitativas, externas ou internas. Em suma, permite definir e delimitar o sistema através do recenseamento das variáveis que o constituem e seguidamente estuda-se esse sistema anteriormente identificado, podendo-se utilizar diversas técnicas de trabalho. Neste sentido, é possível concluir-se que a análise estrutural é uma técnica de análise de sistemas que inclui três etapas sucessivas, sendo elas: identificar as componentes do sistema assim como a relação entre elas, detectar o funcionamento dos sistemas determinando as variáveis-chave e esboçar as evoluções do sistema.

            A análise estrutural coloca em evidência uma hierarquia de variáveis, o que facilita a detecção das variáveis essenciais à mudança, assim como a identificação dos actores mais directamente envolvidos nos processos de mudança. Em torno destas variáveis organizadas na análise estrutural é possível identificar os actores e jogos de incerteza. O jogo da estratégia de actores tem um papel essencial na construção de cenários, no sentido em que o futuro colectivamente construído irá depender das lógicas de actuação da diversidade de actores. Relativamente à construção de cenários, as dimensões-chave dos cenários podem ser encontradas a partir da análise estrutural e a escolha dos componentes que poderão compor os cenários de mudança obedece a uma profunda reflexão, cuja equipa de pesquisa está geralmente responsável. Posteriormente ao facto dos cenários estarem delineados, é possível definir as opções estratégicas face aos cenários possíveis e desejáveis. A escolha das opções estratégicas constrói-se, partindo de um conjunto de acções para que: as suas consequências a curto, médio e longo prazo não vão contra os objectivos visados; sejam coerentes entre si e por fim, as acções a empreender sejam pertinentes, de acordo com os objectivos traçados.

            O planeamento de projectos é um tema bastante interessante e pertinente para os estudantes de Ciências da Educação. Ao longo do curso, no decorrer destes três anos, já nos foi proposto por várias vezes a realização de projectos. É bastante curioso, como ao ler este texto, dei por mim a lembrar-me da planificação dos projectos que já realizei. As principais etapas do projecto, são sem dúvida o ponto de partida, que devem estar bem presentes. Se não seguirmos e cumprirmos essas fases, muito dificilmente o projecto irá correr da forma que pretendíamos. Esta parte do texto, na qual me foquei, (Pag. 125 até 162) dá especial enfoque à primeira fase, sendo esta a definição de problemas e o diagnóstico.

Objectivos e estratégias de acção - Ficha de Leitura III

Referência: GUERRA, Isabel Carvalho (2002). Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais. 2ª ed. Cascais: Principia.

A construção de projectos de intervenção, p. 163-174

 

            Esta ficha de leitura aparece no seguimento da ficha de leitura realizada anteriormente, uma vez que ambas dizem respeito ao mesmo texto, mas a diferentes subtemas, relativo à construção de projectos de intervenção. Como foi possível perceber com a realização da ficha de leitura anterior, as principais etapas contidas no desenho de projecto são a identificação dos problemas e diagnóstico; a definição dos objectivos; a definição das estratégias; a programação das actividades; a preparação do plano de acompanhamento e de avaliação do trabalho e a publicação dos resultados e estudo dos elementos para a prossecução do projecto, sendo que esta se ficha de leitura incidia mais sobre a primeira etapa: identificação dos problemas e diagnóstico. Por outro lado, a ficha de leitura presente irá incidir principalmente sobre os objectivos e estratégias de acção e a elaboração do plano de acção.

            Após a elaboração do diagnóstico, torna-se necessário definir os objectivos que se pretende atingir. Geralmente faz-se uma distinção entre finalidades, objectivos gerais e objectivos específicos, o que por vezes se torna um pouco complicado, visto que a terminologia varia de autor para autor, mas o mais importante é saber se as finalidades do projecto estão claramente definidas e se os objectivos estão formulados em termos razoavelmente operacionais.

            As finalidades indicam o motivo de um projecto e a contribuição que o mesmo pode trazer aos problemas e às situações que se torna necessário modificar. Geralmente, as finalidades são definidas antes do diagnóstico.

            Relativamente aos objectivos gerais, estes descrevem grandes orientações para as acções e são coerentes com as finalidades do projecto, descrevendo as linhas de trabalho a seguir e geralmente não são expressos em termos operacionais, e como tal não é possível ficar a saber se foram ou não atingidos. Os objectivos gerais são globalizantes e formulados em termos de verbos de acção.

            Os objectivos específicos, por sua vez, são objectivos que exprimem os resultados que se espera atingir e que pormenorizam os objectivos gerais. São diferentes dos objectivos gerais porque não indicam direcções a seguir, mas estádios a alcançar, sendo assim geralmente expostos em termos mais descritivos de situações a realizar. A formulação dos objectivos específicos deve ter algumas características, nomeadamente: não conter ambiguidades e ser clara; ser precisa; sempre que possível, os objectivos devem ser quantificados, mas podem ser quantitativos ou qualitativos.

            Posteriormente à definição dos objectivos, é necessário analisar as formas de os atingir. Num projecto de intervenção a estratégia é um processo que quer ver vencido uma dificuldade, utilizando os recursos existentes, maximizando as potencialidades e minimizando as fragilidades. Existem estratégias globais do projecto e estratégias operacionais respeitantes às várias dimensões de intervenção. Num contexto de planeamento e considerando a estratégia como uma etapa de clarificação da concretização da metodologia do projecto, concebe-se a estratégia, num contexto de articulação entre recursos e objectivos e visando a elaboração de um pensamento director em torno do qual se estruturam de forma mais ou menos coerente, as decisões fundamentais.

            A etapa de selecção de estratégias é uma das etapas fundamentais num processo de planeamento. Imperatori e Giraldes consideram as seguintes fases na elaboração das estratégias: estabelecimento dos critérios de concepção das estratégias; enumeração das modificações necessárias; esboço das estratégias potenciais; escolha das mais realizáveis; descrição detalhada das estratégias escolhidas; estimativa dos custos das estratégias; avaliação da adequação dos recursos futuros e por fim, a revisão das estratégias e dos objectivos. Os critérios de concepção das estratégias estão relacionadas com a política da instituição e com o tipo de objectivos e recursos existentes.

            Relativamente à elaboração do plano de acção, o plano de actividades descreve de forma detalhada e sistemática, o que se pretende fazer, quando se pretende fazer, quem será encarregado das diferentes e quais os diferentes tarefas e quais os recursos necessários para as concretizar. A organização de um plano de actividades decorre da relação entre objectivos, meios e estratégias e deve situar-se em torno de algumas questões, nomeadamente: porque é que isto deve ser feito? O que deve ser feito? Onde deve ser feito? Quando deve ser feito? Como deve ser feito?

            Para finalizar, tendo em conta as componentes de um plano de acção, dependendo da dimensão e da profundidade do projecto, assim se define os diferentes elementos de um plano de acção. As principais componentes de um plano de actividades são: a identificação do programa, a definição da actividade, a definição das tarefas que decorrem dessa acção, a definição dos responsáveis pela concretização dessas acções e tarefas, os recursos necessários e por fim, o calendário. Um plano de acção não contém apenas as actividades e tarefas, mas também os restantes elementos de trabalho, nomeadamente o plano de actividades, o plano de avaliação e o plano de pesquisa-acção.

            Na minha opinião o plano de acção tem uma grande importância no que toca á elaboração de um projecto, uma vez que sem um plano de acção bem construído, não se conseguirá implementar devidamente o projecto.

 

Avaliação de um projecto de intervenção - Ficha de Leitura IV

Referência: GUERRA, Isabel Carvalho (2002). Fundamentos e processos de uma sociologia da acção: o planeamento em Ciências Sociais. 2ª ed. Cascais: Principia.

A avaliação de um projecto de intervenção, p. 175-207

 

             Os projectos podem escolher várias modalidades de organização da avaliação, no entanto, geralmente combinam uma auto-avaliação e uma avaliação interna ou externa, sendo que estes dois tipos de avaliação, tem como principal diferença a forma de controlo das variáveis em causa. Na auto-avaliação há coincidência entre a equipa do terreno e a equipa de avaliação, por outro lado, na avaliação (interna ou externa) há dissociação entre a equipa de terreno e a de avaliação.

            Seja qual for a modalidade, a avaliação implica a programação de funções e momentos próprios, nomeadamente: a presença de um responsável pela avaliação; um financiamento especifico para avaliação e o accionamento de acções de avaliação com os vários intervenientes e especialmente de momentos de avaliação-formativa com técnicos, parceiros e representantes da população.

            Existem três origens diferentes na avaliação de projectos sociais. Por um lado, a história dessa procura de eficácia, em segundo lugar a “modernização” desse olhar por via da “avaliação das políticas publicas” que acrescentam a essa procura de eficácia, a necessidade de transparência e de reforço da democraticidade das actividades públicas, por fim, um terceiro desenvolvimento advém do desenvolvimento da “avaliação de impactes sociais” resultantes da crítica à “avaliação de impactes ambientais” por esta negligenciar a análise dos impactes sociais nos projectos ambientais.

            É neste contexto de evolução, que se pode afirmar que as experiências de avaliação existentes actualmente, confrontam diferentes “gerações” ou “paradigmas de avaliação” que vão da “avaliação tecnocrática” à “avaliação processual” e por fim, à “avaliação participativa” dos nossos dias. A avaliação tecnocrática era concebida como um instrumento de aplicação sistemática, destinado a verificar o grau de coincidência (ou de desvio) dos resultados face aos objectivos propostos e a eficiência na utilização dos recursos disponíveis. A avaliação processual por sua vez, visa dotar o processo de um dispositivo de auto-regulação alargada, tendo em conta os diversos tipos de actores implicados e o conjunto de variáveis pertinentes, a nível interno e externo.

            Os processos de planeamento e de programação das intervenções sociais, bem como os da aferição dos seus resultados estão dependentes e associados ao que se tem vindo a chamar uma “metodologia participativa dos projectos de intervenção”. Hoje em dia, acredita-se que uma “avaliação participativa” resolve, simultaneamente, a multiculturalidade dos olhares sobre a condução dos processos sociais e a nova democraticidade que é exigida à acção pública.

            A avaliação e a pesquisa utilizam metodologias diferentes, embora ambas recorram às metodologias tradicionais de investigação em ciências sócias. A investigação distingue-se da avaliação porque não pretende medir os resultados de uma acção nem dar elementos que suportem decisões, por outro lado, a avaliação tem como principal objectivo, medir os resultados de acções.

            Avaliar é sempre comparar com um modelo e implica uma finalidade operativa que visa corrigir ou melhorar. A avaliação tem quatro funções principais, nomeadamente: de medida; de utensílio de apoio à tomada de decisão; se processo de formação e de aprofundamento da democracia participativa.

            No que toca às metodologias de avaliação, existem semelhanças e diferenças. Por um lado, todas tem como objectivo recolher informações de apoio à intervenção e todas querem medir a eficácia dos projectos de intervenção. Por outro lado, utilizam diferentes tipos de pesquisa para recolha de informação, os critérios-base de apreciação são também diferentes e neste sentido, a objectividade científica que pode ser pedida a cada uma é também distinta.

            Os modelos mais importantes de avaliação são: a avaliação experimental/pela investigação cientista, a avaliação por objectivos, a avaliação orientada para a decisão, a avaliação pela utilização e a avaliação múltipla. Estes modelos podem ser accionados em vários momentos, sendo que diferem em função do momento em que acciona o dispositivo de avaliação. De acordo com H. Freeman e outros (1979) há vários tipos de avaliação que pretendem responder a diferentes tipos de questionamento, segundo a temporalidade do projecto, e que colocam ao avaliador questões que correspondem a quatro “modelos de avaliação”. Neste sentido, é possível considerar vários tipos de avaliação, segundo a sua intencionalidade, nomeadamente: a avaliação diagnostica, a avaliação de acompanhamento, a avaliação de resultados e a avaliação de impacte. Relativamente à avaliação com fins de planeamento (ex-ante), a avaliação para o planeamento de programas de intervenção social, consiste essencialmente em estimar a amplitude e a gravidade dos problemas que necessitam de uma intervenção e elaborar programas em função desses problemas. É essencialmente uma “avaliação-diagnóstica”. Nesta fase, a avaliação engloba os seguintes questionamentos: conhecimento da amplitude do problema, definição dos participantes e beneficiários do projecto e por fim, a definição das melhores estratégias. De acordo com a avaliação com fins de acompanhamento (on-going), na fase de execução, pretende-se saber se os projectos de intervenção estão a atingir os grupos-alvo e se estão a assegurar os recursos e serviços previstos. Uma avaliação de acompanhamento visa determinar de forma sistemática se o projecto está a ser executado conforme o previsto. Por sua vez, a avaliação final é uma avaliação de objectivos ou de resultados que pretende verificar os efeitos do projecto no fenómeno social com que se pretendia lidar. Este tipo de avaliação baseia-se em averiguar em que medida o projecto produziu as mudanças que se tinha desejado e quais os resultados não esperados. No fim da intervenção, pretende-se conhecer os resultados e a eficácia do projecto, o que pressupõe a existência de objectivos e de critérios de sucesso definidos anteriormente.

            Relativamente aos critérios de avaliação, apesar da diversidade dos tipos de avaliação, as componentes do processo de avaliação que permitem a verificação do seu sucesso analisam geralmente os seguintes factores: apreciação da adequação; verificação da pertinência; apreciação da eficácia; apreciação da eficiência; apreciação da equidade e a apreciação do impacte.

            Por vezes pensa-se que avaliar é construir uma série de indicadores neutros, que dão respostas a uma série de problemas empíricos, no entanto, as dificuldades de realização das avaliações surgem das bases de enquadramento teórico, que situa os contextos de uma avaliação social. Para elaborar uma base teórica que permita fundamentar uma estrutura de avaliação social, há necessidade de recorrer a diversas disciplinas científicas e a uma grande diversidade de conceitos. As dificuldades em encontrar as bases científicas para uma “teoria de avaliação social”, advém primeiramente, da impossibilidade de previsão de fenómenos sociais. Uma outra dificuldade resulta da avaliação dos objectivos das intervenções sobre o social. A avaliação implica a referência aos objectivos e a identificação dos mesmos, na medida em que é uma necessidade básica de qualquer metodologia de avaliação. A definição de objectivos de intervenção é uma problemática complexa e a avaliação tradicional assentava em alguns pressupostos básicos, nomeadamente: que é possível fixar objectivos unívocos e permanentes para cada política, plano ou projecto; que existe uma clara distinção entre a definição dos objectivos e a execução dos projectos; que existe um sistema consistente de valores partilhados em se podem basear critérios de avaliação universais; acredita-se que a sede desses critérios, são os poderes públicos e os especialistas e acredita-se ainda, que a avaliação controla a maioria das variáveis do processo.

            Do ponto de vista técnico, os estudos de avaliação apresentam dificuldades e levantam, quatro tipos de problemas que necessitam de ser ultrapassados, nomeadamente as avaliações sociais são geralmente dispendiosas e longas; nem todos os impactes são passíveis de serem medidos; a avaliação social é, frequentemente, polémica e controversa e o facto de avaliação social exigir uma equipa de peritos.